
A associação EVITA, que apoia portadores de alterações genéticas relacionadas com cancro hereditário, defende a criação de um registo oncológico para este cancro que permita desenhar uma estratégia para evitar a doença e reduzir a mortalidade precoce. Em declarações à Lusa, Tamara Milagre, presidente da EVITA – Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário, lembra que o cancro hereditário representa 10% de todos os cancros e sublinha a necessidade de discriminar os casos de origem hereditária dos de origem esporádica, para definir uma estratégia de combate, lembrando que esta discriminação não acontece no Registo Oncológico Nacional (RON).
“Para já, são números de 2019 [os que foram divulgados este fim de semana]. No Globocan já há números de 2020, com 70.000 casos por ano, 7.000 de cancro da mama, por exemplo”, afirma Tamara Milagre, insistindo na necessidade de distinguir os casos de origem hereditária.
Comentando os dados do RON 2019, que apontam para 57.878 novos casos de cancro e 28.464 óbitos, Tamara Milagre insiste: “uma coisa que se destacou foi que aumentaram os cancros nas mulheres em idade reprodutiva”. “Será que o cancro hereditário está a ganhar mais peso porque estamos a subidentificar portadores de alterações nos genes relacionados com o cancro hereditário? Eu acredito que sim”, afirmou.
Segundo os dados do RON 2019, os novos casos de cancro aumentaram quase 20% relativamente a 2010. Os homens continuam a ter uma taxa de incidência superior às mulheres, um facto que se verifica para todos os grupos etários, à exceção das mulheres em idade fértil. “O hereditário está lá, mas não está identificado. E qualquer argumentação para um financiador ou para um decisor sobre se este cancro é ou não muito caro e sobre o impacto socioeconómico, só posso falar se souber quantas pessoas são afectadas”, acrescentou a responsável.A este respeito, a EVITA vai em breve iniciar um projecto de investigação (“HBOC-EFFECT”), em parceria com o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, a Nova Medical School (NMS) e a Nova School of Business and Economics (Nova SBE), precisamente para apurar a carga socioeconómica do cancro da mama e ovário hereditário.