
América do Norte, América do Sul, Europa e África têm o seu centro no Oceano Atlântico, Portugal é a ponta da Europa metida no Atlântico. É, à escala global, o mais central dos países europeus.
Recordemos os Lusíadas, quando Vasco da Gama descrevia Portugal ao rei de Melinde: “Eis aqui bem no cimo da cabeça da Europa todo o Reino Lusitano, Onde a terra se acaba e o mar começa e onde Febo repousa no oceano”. De facto, vê-se nos mapas, a Península Ibérica é a cabeça da Europa. E Portugal é a cara nessa cabeça. E é na cara que está a boca. E é a boca que alimenta o corpo. E a boca são os nossos principais portos maritimos. São postos avançados que a Europa tem no Atlântico, são bocas da Europa metidas pelo Atlântico dentro. E o Atlântico é a auto-estrada que tudo traz do Índico e do Pacífico. Da China, da Índia, de Hong Kong, de Singapura, etc. Que tudo leva para o Índico e para o Pacifico. Os transportes de e para a Europa passam pelo Atlántico, com navios de muito grande tonelagem. Que necessitam de portos de águas profundas. Não podem passar no canal de Suez nem no canal do Panamá.
Desde 2015, já foram lançados mais de cem navios com capacidade para transportar acima de 15.000 TEU (TEU é a capacidade de carga deum contentor maritimo normal, de 20 pés decomprimento, por oito de largura e oito de altu-ra). O navio “Ever Ace”, do Operador Maritimo Evergreen (Taiwan), recentemente construído,tomou-se no maior navio porta-contentores do mundo. Com uma capacidade de 23.996 TEU, 400 metros de comprimento e 62 metros de lar-gura, destronou os navios da Classe Algeciras da HMM – Hyundai Merchant Marine (Coreia do Sul), que apresentam uma capacidade de carga de 23964 TEU. Com calados superiores a 15 metros, para estes navios, a rota do Mediterrâneo deixou de ser possível devido à limitação do Canal de Suez. Esses navios, na rota da Ásia, só podem vir pelo Atlântico. Desde Sul, pela rota do Cabo. Por outro lado,a rota do Atlântico Sul toca em países que são economias emergentes, como África do Sul, Angola, Argentina e Brasil.
Portugal tem Sines. Sines é um porto de águas profundas. Único da Europa no Oceano Atlântico. Com fundos naturais de 28 metros, não sujeitos a assoreamento. Aberto 24 horas por dia e 365 dias por ano. Que tem localização privilegiada na confluência das principais rotas marítimas internacionais. Pelas «auto-estradas marítimas », a Sines pode chegar, dos outros continentes, o abastecimento da Europa. De Sines podem partir as exportações europeias. Para a América, para a África, para a China, para a Malásia, para a Índia, para a Austrália e para a Oceânia. O transporte marítimo é o mais económico pelas enormes quantidades transportadas e pelo maior custo das vias terrestres. Os actuais navios de megatonelagem, nas rotas transcontinentais,aportando em Sines, não precisam de entrar no Mar do Norte nem no Mediterrâneo. Por isso,Sines tem de estar bem ligado ao centro da Europa. Com vias férreas para a Península Ibérica e por “transhipping”, com carreiras de navegação normal, pelo Mar do Norte, para o Norte, pelo Mediterrâneo, para a Europa do Sul. A Europa tem, em nós, um trunfo: Sines é, na Europa, uma porta aberta para o Atlántico. Desde 2006, tenho chamado a atenção para a importância global do Porto de Sines. Os sucessivos Governos nunca olharam, como estratégia,para a excepcional importância do Porto de Sines.
Finalmente, registe-se, com agrado, que o actual ministro da Economia já viu e propôs a possibilidade de abastecimento de gás, a partir de Sines, à Europa central. Portugal, através de Sines, pode ter resposta para este fornecimento. A longo prazo há que construir o que falta ao gasoduto desde Sines até à Alemanha. Presentemente, o gás proveniente dos Estados Unidos e de outros fomecedores da África e da América Latina pode chegar a Sines em navios de megatonelagem e por “transhiping”, em navios de capacidade normal, poderá chegar à Europa Central pelos portos do Mar do Norte ou do Mediterrâneo, Vamos alimentar a Europa através de Sines!
Celestino Flórido Quaresma é Professor universitário de Engenharia – Aposentado
Artigo escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico